“Liberdade é a posse de si mesmo”
Julgamos também que a vida é apenas isto: uns poucos decênios de atividade entre dois símbolos decrépitos: berço e túmulo. Daquele para este, um perseguir cego de prazeres, um empenhar-se inconseqüente na busca do vil metal, um vão especular em torno de ignaras filosofias, um imolar-se inteiro a falsos “deuses”, a falsos valores, a falsos símbolos, um cego e generoso contribuir à aceleração de um processo cultural deformado a que damos o nome eufônico, mas eufemístico de civilização.
Pois então, será civilizado um estado de coisas que ainda abriga ódios raciais, que disputa uma corrida louca para ver quem agarra o máximo de força desintegradora, que empenha milhões para mandar um homem à lua antes de saber quem é realmente o homem?
E depois disso, daqueles escassos anos de “vida” todo o ser mergulharia no abismo do nada. É claro que a conclusão tem que ser essa para o que se limita à contemplação narcisista do seu corpo físico. Como poderia conceber a continuidade da vida e a sua autonomia, aquele que não pode ir além da matéria? Também seria impossível ao verme acreditar na existência dos seres alados e voarem na amplidão dos céus.
Vemos, então, a extrema fragilidade e contradição desse endeusamento do materialismo. A ciência – essa outra deusa – observa e proclama a extraordinária economia dos processos naturais, onde tudo tem lugar, finalidade, valor, função, razão de ser; onde nada existe por acaso e onde – no dizer de Lavoisier, o sábio guilhotinado – “NADA SE CRIA E NADA SE PERDE, TUDO SE TRANSFORMA” e onde não há efeito sem causa. Essa mesma natureza criadora que coloca tanto cuidado na formação de uma simples ameba, teria chegado a montar e operar a complicadíssima estrutura do ser humano e, mais do que isso, dotá-lo de razão e entendimento, fazê-lo sonhar até com as grandezas do desconhecido e de repente, jogá-lo fora, num monturo, para deixar deteriorar o seu envoltório físico, sem que daquela ruína biológica, coisa alguma se aproveitas...
Por Ronaldo Adonai
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